terça-feira, 7 de outubro de 2014

O luxo em receber menos do que mais



O contracto recém assinado por K. J. McDaniels pelos Philadelphia 76ers torna oficial: Terminou o Verão mais estranho da NBA no que a contractos assinados diz respeito. A NBA está cada vez mais técnica, e um contracto assinado pode não ser sinónimo de minutos em campo, tal como um contracto de 4 anos, pode no fundo significar apenas 2, confuso?

Vejamos Josh Huestis, uma promessa que corria o risco de nem ser seleccionado no Draft, conseguiu no entanto que os Oklahoma City Thunder o escolhessem na 29ª posição. Ofereceram-lhe o contracto no valor de 1.5 Milhões de dólares, o qual rejeitou, preferindo em vez disso assinar pela D-League por uns "míseros" 25.000 dólares!

O mais mediático Alonzo Gee, pertenceu a 5 equipas diferentes desde Julho. O seu contrato de 3 Milhões-não-protegidos (Ou seja, a equipa não tem vinculo obrigatório com o jogador) tornaram somente o jogador numa valiosa moeda de troca. Os 3 Milhões-não-protegidos do contracto dizem-nos duas coisas: a equipa em questão não o vê como um jogador/activo. Vê-o sim como 3 Milhões, e esse é um bom valor para moeda de troca num futuro negócio.

Esta semana o tal McDaniels, que foi a 32ª escolha do Draft deste ano, tomou a estranha decisão de recusar um contracto de 4 anos em detrimento de um contrato de 1 ano com 0 dólares protegido (isto é, a equipa não tem obrigatoriedade de o manter e/ou pagar. É dispensável a qualquer momento). Basicamente, trocou o certo pelo incerto.

Eu sei que este assunto não é tão atractivo como o basquetebol jogado, afundanços e etc, mas esta é a NBA dos tempos que correm onde os jogadores são Bens das equipas, e Moedas de Troca, e o simples facto de estarem nas fileiras de uma ou outra equipa não significa que contem para as contas... pelo menos para as do treinador, porque o General Manager tem outras contas em perspectiva.

Sam Hinkie - Sixers GM
Os Sixers ofereceram um contracto de 4 anos ao K. J. McDaniels. Por sinal, é o máximo possível pelas regras da NBA a um rookie escolhido na 2ª ronda do Draft. Nos primeiros 2 anos ele tinha garantido um salário acima do nível mínimo que pode ser oferecido a um rookie. E nos últimos 2 anos não garantiam qualquer tipo de valor. Ou seja, podiam continuar vinculados ou não.

Este contracto faz-vos lembrar o de alguém? Faz! O do Chandler Parsons, ao serviço dos Houston Rockets, era exactamente igual. E o tiro saiu pela culatra à equipa texana. Como não havia qualquer obrigatoriedade nos últimos 2 anos, Parsons, saiu, livre, para os Dallas. E os Rockets a chuchar no dedo.

Parece absurdo mas nem é tanto assim. As equipas oferecem este tipo de contractos nos dias que correm para não sobrecarregar o tecto salarial (Cap Space) das mesmas. O contracto oferecido a Parsons por apenas 2 anos, logo por valores inferiores caso tivesse sido um contracto de 4 anos totalmente com vinculo obrigatório, não permitiria aos Rockets terem por exemplo Jeremy Lin, Dwight Howard e Harden na mesma equipa. É uma ginástica salarial à qual todos se têm que se adaptar.

Mas os Sixers e os Rockets têm mais em comum do que este contracto. O homem que o assinou ambos é o mesmo: Sam Hinkie. Era o General Manager dos Rockets aquando da chegada de Parsons à liga, e é o GM dos Sixers, agora que recebem o McDaniels.

Então mas mesmo depois de se ter apercebido que cometeu um o erro com o Chandler Parsons está neste momento a fazer o mesmo? perguntam vocês. A diferença é que numa equipa como os Rockets que querem ser campeões no imediato, não fazia sentido. Para os Sixers que querem ganhar a médio-longo prazo, pode até fazer.

Hinkie exerceu este contrato de possível-moeda-de-troca-no-futuro (chamemos-lhe assim) actualmente com Hollis Thompson, Elliot Williams, Jarvis Varnardo, Brandon Davies e Casper Ware. Caso um destes se venha a tornar num Chandler Parsons, ou seja, se algum se tornar num "craque" em dois anos, os Sixers têm uma boa moeda de troca para aliciar um jogador influente/experiente/etc para juntar ao jovem e talentoso plantel que têm. Isto tudo daqui a 2 ou 3 anos!

Os Pilhadelphia 76ers são a equipa com maior "espaço" no tecto salarial. Cerca de 50 Milhões por preencher. Isto não quer dizer que tenham dinheiro para gastar, têm isso sim, espaço no plantel para integrar um atleta que receba bons milhões, a saber: um Kobe, LeBron, Harden, Durant. Mas os Sixers estão a levar o Tanking (prática de supostamente deixarem-se afundar na tabela classificativa) ao extremo.

Há alguns casos semelhantes aos do McDaniels no passado. O jogador Carl Landry fez o mesmo também em Houston, e também com o Sam Hinkie como GM. Esteve um ano com um contracto mínimo, e assim ocupando pouco Tecto Salarial na equipa, e no final do ano de rookie, renovou por 3 anos/9 Milhões. Lavoy Allen, fez o mesmo nos Sixers. Contracto de 1 ano em 2011, e depois de uma boa exibição nos Playoff, os Sixers renovaram por 2 anos/6 Milhões.

Numa escala completamente diferente, LeBron James acabou de assinar pelos Cleveland Cavaliers por apenas duas épocas. E soou o alarme para o facto de que LeBron ao ter assinado por apenas 2 temporadas pode não estar totalmente de cabeça nos Cavs. E no fundo é só uma Win-Win situation. O LeBron sabe que vai ficar, e deve ter dado a palavra de que fica, mas ao assinar por só 2 anos, liberta Tecto salarial para a chegada de outros jogadores, igualmente bem pagos. Kevin Love, Shawn Marion, Kyrie Irving (este último antevendo renovação).

Os anos nos dirão se os Sixers foram prudentes, até lá vamos tentando ler as implicações das negociações na teia da NBA; quem beneficia e quem perde, neste constante assina não-assina por um ano ou por quatro! 

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